HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
ARTICULISTA DA FOLHA
Se há um estado que desafia as categorias mais comumente utilizadas pelos médicos é o autismo.
Embora ele apresente uma forma clássica facilmente reconhecível, na qual a criança, na maioria das vezes um menino, vive num mundo à parte, praticamente sem linguagem e apresentando movimentos e hábitos muito característicos, os especialistas falam cada vez menos em autismo e mais em transtornos do espectro autista (TEAs).
A ideia é que não se trata de uma moléstia isolada mas de uma série de condições que têm como marca anormalidades nas interações sociais e na comunicação. O autismo clássico é a forma mais dramática, mas há outras, menos graves, nas quais se vive com autonomia total.
Pessoas com síndrome de Asperger não costumam apresentar retardo mental nem incapacidade linguística.
Podem ser bastante inteligentes, com notável percepção para detalhes e interesse obsessivo por alguns assuntos, nos quais se aprofundam até saber tudo. Mas, como não são boas para lidar com gente, é difícil encontrá-las em profissões como psicologia. Procuram ofícios que lidam com objetos ou sistemas, como engenharia, matemática, xadrez competitivo.
Como coloca a psicóloga Susan Pinker, é gente que pega de primeira a teoria das cordas, mas não consegue decodificar os sinais de vergonha na face de uma pessoa.
Além do autismo clássico e da síndrome de Asperger, compõem os TEAs o transtorno de desenvolvimento pervasivo não específico, a síndrome de Rett e o transtorno desintegrativo da infância.
De modo controverso, alguns autores como Simon Baron-Cohen propõem que as TEAs são casos extremos de "cérebro masculino", já que, em testes psicométricos, homens se saem melhor do que mulheres em sistematizações enquanto elas os superam em habilidades sociais.
A hipótese tem amparo da epidemiologia. Há 4,3 meninos com TEA para cada menina. Assim, espectro iria do autismo clássico até a "nerdice" comum dos garotos.
Embora a medicina procure compreender e curar as TEAs, há uma corrente, composta principalmente por portadores da síndrome de Asperger, que defendem que o autismo não é uma doença, mas apenas uma variante neuronal, uma outra forma de ser.
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