segunda-feira, 18 de novembro de 2013

AUTISMO: FOTOGRAFO FAZ PROJETO DE FOTOS PARA SE APROXIMAR DO FILHO AUTISTA

O fotógrafo Timothy Archibald se sentia totalmente desconectado de seu filho Elijah, de cinco anos, que é autista. Muitas vezes ele se questionava sobre a razão de seu filho ser assim, se Elijah deveria tomar medicamentos 


Devido a esta dificuldade de comunicação com Elijah, Archibald iniciou um projeto fotográfico chamado "Echolilia". O projeto se transformou em um livro com 43 fotos no qual ele registra alguns dos rituais repetitivos de Eli, como o fotógrafo chama o filho



O nome do projeto vem da palavra ecolalia, o termo técnico usado para indicar a repetição de sons e frases muito comum entre crianças com autismo, incluindo crianças que podem falar e frequentam escolas regulares, como é o caso de Elijah



"No começo, Eli não sabia exatamente do que se tratava", disse Archibald à BBC. "Mas, depois, se transformou no projeto de ambos. Foi como se finalmente tivéssemos algo em comum, juntos. Meu papel como líder mudou. Me transformei em amigo e era isto o que ele precisava naquele momento" 



"As fotos feitas no começo do projeto são mais escuras que as últimas. Demonstram a tensão que se vivia em casa. Na imagem em que aparece com o alicate de ponta na boca, por exemplo, se nota o nervosismo. (...) Neste momento eu sentia que qualquer coisa poderia acontecer", disse o fotógrafo 



"Nesta imagem, Elijah estava explorando o mundo como um bebê. Colocava objetos no rosto, na cabeça. Acredito que esta foto poderia ter sido feita com qualquer criança, não necessariamente um autista. (...) É a primeira página do livro porque mostra alguém que olha o mundo através de um filtro" 


As coisas mudaram radicalmente entre pai e filho. "O que aconteceu com Eli e eu é que logo conseguimos uma base, uma história compartilhada. É como quando você sofre um acidente de carro e só você e seu amigo sobrevivem, é criado um vínculo, ocorre uma aproximação. Aconteceu isto quando "Echolilia" nasceu e não existia nenhuma ligação entre nós", disse o fotógrafo 


As fotos foram feitas intencionalmente em lugares diferentes da casa do fotógrafo na Califórnia, Estados Unidos. "Quando o via fazendo algo que me chamava a atenção, pedia para ele repetir em uma hora e local específicos da casa, no qual a luz nos favoreceria" 



Archibald nunca seguiu o filho com a câmera para capturar algo imprevisto. "As fotos foram feitas em instantes em que ambos estávamos sozinhos. (...) Buscávamos o momento quase sempre enquanto o irmão menor, Wilson (três anos) dormia" 




"Agora Elijah tem 11 anos, está bem, tem seus interesses pessoais. Estou contente em dizer que este projeto já terminou. Meu interesse pela fotografia provocou o nascimento do projeto, mas agora preciso que ele tenha seus próprios interesses. Ele é atraído por beisebol, videogames, como qualquer menino. Cada vez que ele assina um exemplar do livro (todos os livros são autografados por pai e filho), Eli recebe um dólar de recompensa. Por isso, continua fazendo", disse Archibald. Mais detalhes no 
site www.timothyarchibald.com/blog







AUTISMO - MITOS E VERDADES

MITOS E VERDADES


Psicopatas são autistas. 

MITO: conforme explica o neurologista Leandro Teles, psicopata é um termo geralmente reservado para pessoas com um grave distúrbio de personalidade, incapaz de se colocar no lugar do outro, que não apresenta empatia com o problema alheio. "Eles usam as pessoas e as situações em benefício próprio, geralmente não são piedosos e podem ser muito cruéis. Com muita frequência, se envolvem com a criminalidade. São muito inteligentes, sedutores e perigosos. Já o autismo é um transtorno do desenvolvimento do cérebro. Autistas não são, de modo geral, agressivos, e percebem e interagem de modo peculiar com o mundo. Quando entendemos esse jeito diferente de viver, compreendemos que, na verdade, eles apenas reagem sob ambientes e situações que o agridem". A psicóloga Cristiane Silvestre de Paula completa: "Esta comparação é tão absurda que não vale a pena comentar"


A pessoa com autismo pode gritar, espernear e provocar grande confusão ao redor. 

VERDADE: até porque qualquer criança pode fazer isso, mesmo sem autismo. O que ocorre é que muitos pacientes, principalmente os casos mais típicos e intensos, têm uma baixa tolerância a ambientes com muito estímulo e que não passam familiaridade. A psicóloga Cristiane Silvestre de Paula conta que isso acontece com algumas crianças, especialmente as que não têm acompanhamento ou cujo comprometimento é maior: "O papel do profissional é lidar com esta situação, não só tratar, mas conscientizar a sociedade. Se a criança está com a mãe num supermercado, por exemplo, quem está ao redor pensa "esta mulher não sabe educar seu filho". As mães sofrem muito preconceito. Divulgando mais o assunto, as pessoas vão conhecer e, quem sabe, passem a respeitar mais" 


Há vários tratamentos que ajudam a melhorar os sintomas. 

VERDADE: como se trata de um transtorno muito heterogêneo, o tratamento deve ser sempre individualizado; quer dizer, o que funciona para um paciente pode não funcionar para outro. De modo geral, são usados métodos multimodais, em que terapias se complementam de forma abrangente. "A meta é sempre reduzir comportamentos e sintomas disfuncionais e consolidar atitudes positivas, buscando um equilíbrio que favoreça a integração, a socialização e o engajamento", diz o neurologista Leandro Teles. Ele explica que podem ser usadas (associadas ou não): análises comportamentais, protocolos de interação interpessoal, terapia com animais, treinamento de linguagem, tratamento medicamentoso (em casos selecionados para controle específico de alguns sintomas), dietas (sempre com suporte especializado e ciente do custo versus benefício) e fisioterapia. Os psicólogos Daniel Del Rey e Cássia Leal da Hora complementam informando que fonoaudiólogos ajudam na aquisição da linguagem e terapeutas ocupacionais treinam habilidades motoras e atividades cotidianas. "O conceito atual é o de que, quanto mais precoce for o diagnóstico e início do tratamento, melhores os resultados. Este é, de modo geral, contínuo, desgastante e caro. Por isso, é fundamental a participação de entidades pró-autistas, de incentivo governamental e de integração especializada de todo o sistema de saúde. Também não podemos nos esquecer de orientar a família, a comunidade e toda a sociedade, pois o preconceito, a falta de acolhimento e de oportunidades são tão ou mais impactantes na qualidade de vida do que o próprio transtorno", conclui Leandro Teles 

A utilização de tablets pode auxiliar no tratamento.

 VERADADE: aplicativos executados em tablets vêm permitindo que crianças autistas melhorem sua comunicação. A tela sensível ao toque é fácil de usar, chama a atenção pelas cores e animações e estimula a concentração, que pode ser difícil para quem apresenta o transtorno. No Programa de Transtornos do Espectro Autista do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, o emprego do gadget é incentivado - e, dessa maneira, jogos e exercícios se tornam complemento de terapias realizadas com profissionais. De olho neste mercado, a Apple, fabricante do iPad, incluiu um recurso direcionado a autistas no sistema IOS 6, lançado em 2012. Importante: especialistas enfatizam que o tablet, sozinho, não faz mágica e, por isso, é preciso supervisão durante as atividades. "É uma ferramenta incrível, cada vez mais barata, porém, é importante saber qual aplicativo a criança usará. Inclusive, lá fora, o professor e especialista em autismo Simon Baron-Cohen, da Universidade de Cambridge, vem criando programas para este público", diz a vice-presidente do Conselho Científico da ONG Austismo & Realidade, Cristiane Silvestre de Paula

Autistas têm um mundo próprio. 

MITO: para o psicólogo Daniel Del Rey, não existe isso de "mundo próprio". O universo do autista é o mesmo de todas as pessoas. O que ocorre é que ele sente e interage com o entorno de forma diferente. Para Cássia Leal da Hora, psicóloga especializada em autismo, o indivíduo traz uma sensibilidade sensorial alterada que o faz se isolar socialmente, parecendo aos olhos dos outros que vive à parte, o que não é verdade. "Este é um mito antigo. Diziam isso há muitas décadas, quando se conhecia pouco sobre o assunto. Eles não têm um mundo próprio, mas dificuldade em conhecer outras pessoas. Não podem ficar isolados, pois precisam fazer mais contato com outras pessoas. Pais, familiares e professores são considerados coterapeutas neste sentido", diz a psicóloga Cristiane Silvestre de Paula 

A internação do autista é positiva, pois uma instituição especializada saberá como cuidar dele. 
MITO: de modo geral, o autista pode e deve ser acolhido dentro do seu ambiente familiar. Para tal, é fundamental que os familiares sejam bem instruídos com relação à doença e aprendam a gerenciar os dilemas do convívio do dia-a-dia, buscando sempre a harmonia e o bem-estar coletivo. "Nessa ótica, é fundamental que o autista seja readaptado ao modo de vida tradicional e, ao mesmo tempo, que a família respeite e compartilhe sua maneira particular de ser. Tal integração é peculiar de cada núcleo, uma vez que não existe um paciente igual ao outro e também não existe uma família igual à outra, sendo, portanto, uma combinação única que exige um gerenciamento personalizado", aconselha o neurologista Leandro Teles. "Os familiares também devem aprender formas de lidar com o portador, aumentando a chance de que o ambiente domiciliar seja a extensão do tratamento que ocorre em setting clínico", complementa a psicóloga Lygia Teresa Dorigon. A também psicóloga Cristiane Silvestre de Paula, professora adjunta do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento na Universidade Presbiteriana Mackenzie, diz, ainda: "Há até uma lei que garante que crianças estejam matriculados em uma escola regular. Isso para não perderem o desafio de se desenvolver e interagir com outras pessoas. A escola regular os ajuda a ter contato social" 

Autismo pode ser hereditário.
VERDADE: O psiquiatra Guilherme Polanczyk, coordenador do núcleo de pesquisa de neurodesenvolvimento inicial de crianças da Faculdade de Medicina da USP conta que o autismo é uma das doenças psiquiátricas com maior particularidade genética. "Pode ser transmitida pelos pais ou por mutações espontâneas, que acontecem no momento da divisão celular", explica. Segundo a psicóloga e professora adjunta do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento na Universidade Presbiteriana Mackenzie, Cristiane Silvestre de Paula, este é um assunto que assusta as pessoas. "Realmente, se já há um filho autista na família, as chances de outro nascer com o problema são grandes. Trata-se de uma doença neurobiológica com componentes hereditários. Em gêmeos monozigóticos é ainda mais comum a ocorrência" 

Não há cura para o autismo. 
VERDADE: autismo é um transtorno do desenvolvimento que pode gerar diferentes graus de comprometimento. Mas o tratamento é fundamental e, quanto antes iniciado, melhor. A psicóloga Cristiane Silvestre de Paula, vice-presidente do Conselho Científico da ONG Austismo & Realidade, afirma: "O que pensamos ser mais relevante é obter melhor tratamento para que as pessoas se tornem mais independentes e tenham mais qualidade de vida. Devemos lidar como o tema como se fosse uma doença crônica, não esperando que aquela pessoa deixe de ser autista" 


Autistas são superinteligentes. 

MITO: como formam um grupo muito heterogêneo, cada autista é de um jeito. Todos mostram similaridade na dificuldade social, mas, do ponto de vista intelectual, podem apresentar performances muito distintas. Existem muitos com inteligência normal e uma parcela apresenta intelecto acima da média. Estes últimos não raro mostram habilidades intelectuais globalmente aumentadas ou têm uma capacidade mental específica mais desenvolvida - como a matemática, a memória, o domínio de tecnologia, a pintura, ou a música. Segundo a psicóloga Cristiane Silvestre de Paula, estima-se que cerca de 10% dos autistas sejam muito inteligentes. "Eles têm o que chamamos de ilhas do conhecimento - são bons em um certo tema 

Autistas não gostam de carinho. 
MITO: conforme observa o psicólogo Daniel Del Rey, alguns pacientes são hipersensíveis e se incomodam com o toque, mas não é uma regra geral. "Alguns não se sentem bem se são surpreendidos e também se mostram sensíveis a estímulos externos intensos", diz, também, o neurologista Leandro Teles. A falta de domínio completo da linguagem, a redução do contato visual e a dificuldade em perceber o outro também precisam ser levados em conta. Para a psicóloga Cristiane Silvestre de Paula, eles têm dificuldade em expressar afeto e alguns chegam a ter hipersensibilidade. "Quando você os toca, eles gritam, como se estivesse doendo ou queimando. Luz muito forte, por exemplo, também os incomoda". Ela conta que é sempre bom preparar o ambiente e evitar levá-los a lugares muito lotados e barulhentos, como um shopping center, por exemplo. "Porém, eles gostam de carinho, mas não sabem como expressar isso"

Pessoas com a doença preferem ficar sozinhas. 
PARCIALMENTE VERDADE: o fato é que alguns indivíduos que sofrem com o transtorno se incomodam com interações prolongadas e contextos sociais muito caóticos e barulhentos. "Porém, muitos apresentam interesse em se relacionar socialmente, mesmo não possuindo as habilidades necessárias para fazê-lo", pondera Lygia Teresa Dorigon, psicoterapeuta especializada em autismo. "Não são poucos os que buscam convívio social e se ressentem quando não são bem-sucedidos", complementa Daniel Del Rey, professor do Curso de Intervenção Precoce em Crianças com Atraso no Desenvolvimento e/ou Desenvolvimento Atípico no Núcleo Paradigma. Já vice-presidente do Conselho Científico da ONG Austismo & Realidade, a psicóloga Cristiane Silvestre de Paula, diz que elas têm tendência a querer ficar sozinhas. "A teoria é que haja uma dificuldade na região do cérebro que lida com a cognição social e nosso papel é fazer com que essas pessoas interajam com outras" 

O comportamento da mãe, e a falta de amor, são causas do problema. 
MITO: a origem do autismo é orgânica, estrutural e, em grande parte, fruto de alterações nos genes. "Esta é possivelmente a máxima mais inadequada que já foi propagada sobre a doença", considera a psicóloga Cássia Leal da Hora. O especialista em neurologia Leandro Teles assina embaixo: "Tal afirmação é um completo absurdo, sem qualquer base científica. Essa história de mães frias, chamadas de mães geladeiras, que causariam o autismo em seus filhos, foi difundida na segunda metade do século passado e só fez criar uma legião de mães culpadas, frustradas e sem qualquer acolhimento da sociedade. Foi uma teoria infeliz que muito atrapalhou a compreensão e o tratamento correto da doença, gerando famílias ainda mais disfuncionais". "Trata-se de um mito nocivo, que coloca mais sofrimento em cima da família", afirma Daniel Del Rey, mestre em Psicologia Experimental pela PUC-SP. "Este é o maior mito sobre autismo e um dos mais graves enganos da comunidade científica. Culpar as mães. Imagine as consequências? Na época desta teoria, não se sabia nada sobre o assunto, mas após inúmeros estudos e pesquisas confirmou-se não haver nenhuma ligação", afirma a psicóloga Cristiane Silvestre de Paula 

O ambiente familiar é o principal detonador da doença. 
MITO: o autismo não é desencadeado por questões familiares, por mais complicadas que possam ser. A psicóloga Lygia Teresa Dorigon ressalta: "A falta de incentivo e encorajamento enfatizam sintomas decorrentes do diagnóstico, mas não deflagra um transtorno desse tipo". A também psicóloga Cristiane Silvestre de Paula afirma que o ambiente não influencia, porém, a participação dos pais é essencial para o prognóstico: "Eles não devem esconder ou negar a situação, muito menos ficar nesta situação por anos, mas procurar ajuda especializada, isso é essencial" 

A maioria dos autistas tem problemas de comunicação, interação social e comportamento repetitivo. 
VERDADE: tais características são as mais comuns entre os indivíduos do espectro autista. "No entanto, o nível de comprometimento em cada uma dessas áreas varia imensamente", assegura Daniel Del Rey. O neurologista Leandro Teles complementa dizendo que a cada dia surgem descrições de formas mais brandas da doença, com inteligência normal ou acima da média, linguagem bem desenvolvida e sem estereótipos sérios. "Tais casos são de diagnóstico bem mais complicado e podem até passar despercebidos na sociedade. Por isso, muitos pesquisadores acreditam que possa haver muito mais gente dentro do espectro benigno do que dentro do espectro clássico, mas ainda sem diagnóstico." 

A vacina tríplice pode causar o transtorno. 
MITO: não há relação comprovada entre a vacina e o autismo, sustentam especialistas. Essa relação foi sugerida por pesquisadores no final da década de 1990 e chegou a virar um artigo publicado em uma das mais importantes revistas médicas da época, "The Lancet". "No entanto, o texto recebeu duras críticas e acusações, sendo posteriormente renegado pela classe médica e até por boa parte de seus autores, por conter diversos erros metodológicos", conta o neurologista Leandro Teles. Embora pesquisas feitas na sequência não tenham provado qualquer relação contundente entre a vacina tríplice viral (contra sarampo, rubéola e caxumba) e a doença, o mito acabou se difundindo rapidamente, principalmente na Inglaterra, causando uma franca redução no uso da vacina e aumentando os casos de sarampo. "A tríplice é segura, eficaz e, pelos conhecimentos atuais, não leva ao autismo", diz Teles. "Demoraram muito e gastaram milhões para corrigir isso. Porém, muitas pessoas deixaram de vacinar seus filhos", comenta a vice-presidente do Conselho científico da ONG Autismo & Realidade Cristiane Silvestre de Paula 

Autistas não gostam das pessoas. 
MITO: gostam, sentem falta e saudade, prazer na companhia e apego aos demais. "Como apresentam dificuldade em aprender com os outros e compreender os sinais sociais, não sabem, muitas vezes, agir da forma esperada nos diferentes contextos. Isto pode levá-los ao afastamento. Mas, na medida em que adquirem um repertório, tendem a se aproximar", analisa a psicóloga Cássia Leal da Hora. "É fundamental desenvolver pontes e atalhos de modo a facilitar a troca de afeto com os pacientes autistas, respeitando sempre suas limitações e percepções do mundo", diz o neurologista Leandro Teles. "Muitas vezes, eles se isolam porque o entorno os incomoda. Com o trabalho comportamental, essa tendência tende a se abrandar", complementa o psicólogo Daniel Del Rey 

Quem sofre de autismo não compreende o que está acontecendo ao redor. 
MITO: como dentro do espectro existem indivíduos com repertórios muito diferentes, alguns compreendem e se interessam mais do que outros, mas é um exagero dizer que não entendem o que está acontecendo à sua volta, salienta o psicólogo Daniel Del Rey. Para o neurologista Leandro Teles, o autista capta o que ocorre no entorno, mas sob o prisma de sua peculiaridade cognitiva. "O fato de interagir menos e aparentar estar mais distante não significa que esteja ausente. Muitas vezes, mostram até uma sensibilidade aumentada a estímulos e mudanças sutis na rotina que os cerca, não captados por indivíduos sem o transtorno" 

Autismo pode ser tratado com alimentação especial.
INCONCLUSIVO: O tema é polêmico. Existem especialistas que defendem a dieta, pais que relatam melhora ao alterar a alimentação e outros que não sentem diferença alguma. O psiquiatra Guilherme Polanczyk, coordenador do núcleo de pesquisa de neurodesenvolvimento inicial de crianças da Faculdade de Medicina da USP conta que é comum algumas crianças autistas terem alergia a glúten e caseína (proteína encontrada no leite). Porém, isso não provoca a doença: "Sem dúvida os alimentos têm muitos efeitos sobre todos nós. No caso dos autistas, o glúten pode provocar agitação em alguns. Mas achar que a alimentação possa provocar a doença é bobagem". Já Estevão Vadasz, coordenador do Programa de Transtornos do Espectro Autista do Instituto de Psiquiatria do HC de São Paulo, conta que isso não é universal, mas há um subgrupo para o qual alguns alimentos fazem mal. "Porém, isso não é a causa do transtorno. Portanto, se a criança não apresenta nenhum problema, não é preciso mudar a dieta". A psicóloga Cristiane Silvestre de Paula também lembra que muitas crianças autistas têm restrições alimentares. "A criança costuma ficar obcecada com algum alimento e só quer aquilo. Ou então diz que não vai comer nada branco, por exemplo. É uma grande luta. É preciso que uma nutricionista ajude a balancear isso, pois a criança costuma ter problemas como prisão de ventre, por exemplo"

A internação do autista é positiva, pois uma instituição especializada saberá como cuidar dele.
 MITO: de modo geral, o autista pode e deve ser acolhido dentro do seu ambiente familiar. Para tal, é fundamental que os familiares sejam bem instruídos com relação à doença e aprendam a gerenciar os dilemas do convívio do dia-a-dia, buscando sempre a harmonia e o bem-estar coletivo. "Nessa ótica, é fundamental que o autista seja readaptado ao modo de vida tradicional e, ao mesmo tempo, que a família respeite e compartilhe sua maneira particular de ser. Tal integração é peculiar de cada núcleo, uma vez que não existe um paciente igual ao outro e também não existe uma família igual à outra, sendo, portanto, uma combinação única que exige um gerenciamento personalizado", aconselha o neurologista Leandro Teles. "Os familiares também devem aprender formas de lidar com o portador, aumentando a chance de que o ambiente domiciliar seja a extensão do tratamento que ocorre em setting clínico", complementa a psicóloga Lygia Teresa Dorigon. A também psicóloga Cristiane Silvestre de Paula, professora adjunta do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento na Universidade Presbiteriana Mackenzie, diz, ainda: "Há até uma lei que garante que crianças estejam matriculados em uma escola regular. Isso para não perderem o desafio de se desenvolver e interagir com outras pessoas. A escola regular os ajuda a ter contato social" 








AUTISMO- AUTISMO PODE SER IDENTIFICADO NOS PRIMEIROS MESES DE VIDA, DIZ ESTUDO

Criança passa por teste para detectar autismo. Estudiosos analisaram o olhar das crianças, do nascimento até os três anos, em direção aos rostos de outras pessoas. Eles descobriram que as crianças posteriormente diagnosticadas com autismo mantinham um contato visual reduzido - uma das marcas do transtorno - nos primeiros meses de vida Kay Hinton/Emory UniversiTY


Uma pesquisa conduzida por cientistas americanos sugere que o autismo, disfunção que afeta a capacidade de socialização do indivíduo, pode ser identificado em bebês com até dois meses de vida.

Os estudiosos analisaram o olhar das crianças, do nascimento até os três anos, em direção aos rostos de outras pessoas .
Eles descobriram que as crianças posteriormente diagnosticadas com autismo mantinham um contato visual reduzido --uma das marcas do transtorno-- nos primeiros meses de vida.
A pesquisa, publicada na Nature, aumentou as esperanças de que o autismo seja tratado mais precocemente, afirmou um cientista britânico.
No estudo, pesquisadores liderados pela Escola de Medicina da Emory University em Atlanta, nos Estados Unidos, usaram uma tecnologia de rastreamento visual para medir a forma como os bebês olhavam e respondiam a estímulos sociais.
Eles concluíram que as crianças posteriormente diagnosticadas com autismo mostraram um declínio gradativo na capacidade de manter um contato visual constante com os olhos de outras pessoas a partir da idade de dois meses, quando começaram a assistir vídeos de interações humanas.
O coordenador da pesquisa, Warren Jones, disse à BBC News que foi a primeira vez que "foi possível detectar alguns sinais de autismo nos primeiros meses de vida".
"Estes são os primeiros sinais de autismo já observados".

Metodologia

O estudo acompanhou 59 crianças que tinham um alto risco de autismo por terem irmãos com a doença, e 51 crianças de baixo risco.
Jones e seu colega Ami Klin examinaram as crianças até completarem três anos, quando as crianças voltaram a ser formalmente avaliadas quanto à doença.
Treze das crianças (11 meninos e duas meninas) foram diagnosticadas com transtornos do espectro do autismo - uma série de distúrbios que inclui o autismo e síndrome de Asperger.
Os pesquisadores, então, voltaram a observar os dados de rastreamento ocular dos pacientes e fizeram uma descoberta surpreendente.
"Em crianças com autismo, o contato visual já está em declínio nos primeiros seis meses de vida", disse Jones.
Jones acrescentou, entretanto, que tal quadro só pode ser observado com tecnologia sofisticada e não seria visível para os pais.
Para Deborah Riby, do departamento de psicologia da Universidade de Durham, o estudo proporcionou uma análise sobre o tempo de atenção social, atípica em crianças que tendem a desenvolver autismo.
"Esses marcadores precoces são extremamente importantes para identificar brevemente os primeiros traços de autismo. Dessa forma, temos a capacidade de aprimorar o tratamento", disse Riby.

Mais pesquisas

Caroline Hattersley, diretora de informação, aconselhamento e apoio da National Autistic Society, baseada no Reino Unido, disse que a pesquisa foi "baseada em uma amostra muito pequena e precisa ser replicada em uma escala muito maior antes de podermos tirar quaisquer conclusões concretas".
"O autismo é um transtorno muito complexo", disse.
"Não há duas pessoas com autismo que são iguais, e por isso é necessária uma abordagem holística para o diagnóstico, que leve em conta todos os aspectos do comportamento de um indivíduo. Uma abordagem mais abrangente permite que todas as necessidades do pacientes sejam identificadas".
"É vital que todas as pessoas com autismo possam ter acesso a um diagnóstico, pois isso pode ser a chave para uma recuperação mais rápida", concluiu.
A pesquisa foi feita em parceria com o Marcus Autism Center e o Children's Healthcare of Atlanta.







terça-feira, 3 de setembro de 2013

AUTISTA - Menino autista gênio da física cotado para um dia levar Nobel

Menino autista gênio da física cotado para um dia levar Nobel

Aos 2 anos, médicos diziam que ele teria dificuldades para aprender a ler.
Nove anos depois, americano Jacob Barnett entrava na universidade.

Da BBC

20 comentários
Jacob falava pouco, mas estava constantemente pensando em padrões matemáticos

Aos dois anos de idade, o jovem americano Jacob Barnett foi diagnosticado com autismo, e o prognóstico era ruim: especialistas diziam a sua mãe que ele provavelmente não conseguiria aprender a ler ou sequer a amarrar seus sapatos.
Mas Jacob acabou indo muito além. Aos 14 anos, o adolescente estuda para obter seu mestrado em física quântica, e seus trabalhos em astrofísica foram vistos por um acadêmico da Universidade de Princeton como potenciais ganhadores de futuros prêmios Nobel.
O caminho trilhado, no entanto, nem sempre foi fácil. Kristine Barnett, mãe de Jacob, diz à BBC que, quando criança, ele quase não falava e ela tinha muitas dúvidas sobre a melhor forma de educá-lo.
"(Após ser diagnosticado), Jacob foi colocado em um programa especial (de aprendizagem). Com quase 4 anos de idade, ele fazia horas de terapia para tentar desenvolver suas habilidades e voltar a falar", relembra.
"Mas percebi que, fora da terapia, ele fazia coisas extraordinárias. Criava mapas no chão da sala, com cotonetes, de lugares em que havíamos estado. Recitava o alfabeto de trás para frente e falava quatro línguas".
Jacob diz ter poucas memórias dessa época, mas acha que o que estava representando com tudo isso eram padrões matemáticos. 'Para mim, eram pequenos padrões interessantes.'
Estrelas
Certa vez, Kristine levou Jacob para um passeio no campo, e os dois deitaram no capô do carro para observar as estrelas. Foi um momento impactante para ele.
Meses depois, em uma visita a um planetário local, um professor perguntou à plateia coisas relacionadas a tamanhos de planetas e às luas que gravitavam ao redor. Para a surpresa de Kristine, o pequeno Jacob, com 4 anos incompletos, levantou a mão para responder. Foi quando teve certeza de que seu filho tinha uma inteligência fora do comum.
Alguns especialistas dizem, hoje, que o QI do jovem é superior ao de Albert Einstein.
Jacob começou a desenvolver teorias sobre astrofísica aos 9 anos. No livro The Spark (A Faísca, em tradução livre), que narra a história de Jacob, ela conta que buscou aconselhamento de um famoso astrofísico do Instituto de Estudos Avançados de Princeton, que disse a ela que as teorias do filho eram não apenas originais como também poderiam colocá-lo na fila por um prêmio Nobel.
Dois anos depois, quando Jacob estava com 11 anos, ele entrou na universidade, onde faz pesquisas avançadas em física quântica.
Questionada pela BBC que conselhos daria a pais de crianças autistas - considerando que nem todas serão especialistas em física quântica -, Kristine diz acreditar que "toda criança tem algum dom especial, a despeito de suas diferenças".
"No caso de Jacob, precisamos encontrar isso e nos sintonizar nisso. (O que sugiro) é cercar as crianças de coisas que elas gostem, seja isso artes ou música, por exemplo

AUTISMO - Pais de crianças com autismo usam aplicativos em tablets para estimula a comunicação


Pais de crianças com autismo usam aplicativos em tablets para estimular a comunicação

ELIANE TRINDADE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O tablet é uma espécie de melhor amigo e babá de Pedro, 9. O iPad se converteu também em uma janela de comunicação entre ele e o irmão caçula, Luiz, 7.

Os dois têm autismo, transtorno de desenvolvimento que se manifesta pela dificuldade de comunicação e de interação social.

Logo ao acordar, Pedro aciona um aplicativo, o First Then, indicado por um terapeuta americano, que o ajuda a organizar a rotina.



As imagens vão se sucedendo a um simples toque: ir ao banheiro, escovar os dentes, tirar o pijama.
"O iPad ajuda o Pedro, que tem um grau mais severo de autismo, a não se perder entre uma atividade e outra. Antes ele colocava a camiseta, mas se distraía", diz a mãe dos garotos, a relações públicas Marie Dorion, 39.
Agora, antes de ir para a escola, Pedro aciona o aplicativo e vai ticando as atividades, como amarrar o tênis. "Não esquece mais a mochila", diz Marie.
A família, que mora em um condomínio em Jundiaí (interior de SP), encontrou no tablet um aliado tanto nas tarefas corriqueiras quanto na hora de brincar. "Eles contam piadas um pro outro e se divertem", conta a mãe.
A jornalista Silvia Ruiz, 42, também aposta no auxílio da tecnologia para facilitar a vida escolar do filho Tom, 3. Com o iTouch, o garoto indica quando quer ir ao banheiro, por exemplo. "Tom voltou a falar graças ao uso do tablet como reforçador da terapia."
Como o filho tinha interesses muito restritos e não ligava para brinquedos, os pais e a terapeuta passaram a usar o tablet para incentivá-lo a fazer as tarefas e a falar. "A gente diz: 'Você vai fazer esse quebra-cabeça e depois pode brincar no iPad'." Tem funcionado.
WORKSHOP
Autor do livro "Autismo, Não Espere, Aja Logo" (Ed. M.Books, 136 págs. R$ 42), Paiva Júnior é outro entusiasta do tablet. Pai de Giovani, 5, ele usa o aplicativo Desenhe e Aprenda a Escrever, que custa US$ 2,99, para ajudar o filho na coordenação motora para a escrita fina.

"É um aplicativo que faz a criança escrever as letras de uma forma lúdica, comandando um bichinho que come bolos", explica.

Outro programa que tem dado resultado é o Toca Store. "É um brinquedo virtual que facilita o ensino de como funciona o uso do dinheiro."


A experiência positiva em casa fez Paiva começar a promover workshops sobre a utilização de iPad por autistas voltados para pais, profissionais e estudantes.
"O iPad não faz mágica nem vai melhorar a criança com autismo sozinho. É preciso sempre dar orientação, estar junto", afirma Paiva.
Segundo ele, o mais importante é migrar para o mundo real. "Se ficarmos somente no iPad, vamos incentivar o isolamento, uma das principais características do autismo que queremos extinguir."
O pai cita o exemplo doméstico. "Giovani começou a gostar de quebra-cabeça no iPad. Quando estava montando bem, comprei vários de verdade e montamos juntos no chão inúmeras vezes."
Especialista no tratamento de crianças com autismo, a psicóloga Taís Boselli diz que o "iPad ajuda na comunicação, apesar do temor de que se transforme em comunicação alternativa e impeça as crianças de falar".
Boselli ressalta a importância de estímulos precoce para melhorar o quadro, em especial os visuais. "Quando lhes damos um recurso visual, eles conseguem se comunicar. Por isso o sucesso do iPad no tratamento."


AUTISMO - Tecnologia (suporte aos Autistas)

Tecnologia: ferramenta desenvolvida no Amazonas dá suporte a autistas

A Síndrome do Autismo se caracteriza pelas anomalias comportamentais, como a limitação ou ausência de comunicação verbal, falta de interação social e padrões de comportamento restrito

Como não existe um tratamento médico para curar a Síndrome do Autismo, apenas estímulos ajudam a criança a melhorar a aprendizagem e comportamento. Ainda não se conseguiu, até agora, provar nenhuma causa psicológica, ou no ambiente de convívio das crianças, que possa desenvolver o transtorno. O que a medicina explica é que os sintomas são causados por disfunções físicas do cérebro.

A Síndrome do Autismo se caracteriza pelas anomalias comportamentais, como a limitação ou ausência de comunicação verbal, falta de interação social e padrões de comportamento restrito. A manifestação dos sintomas ocorre ainda na infância, antes dos três anos de idade, e persiste durante a vida adulta.

Outro problema dos autistas é a dificuldade em sequenciar, pois eles têm dificuldades em se lembrar da ordem da realização das tarefas e, geralmente, nem vêem relação entre as atividades. Além disso, há ainda a dificuldade de aprendizagem.

Com base nesses problemas comportamentais, a design gráfica Alice Gomes, 29, e a doutora em engenharia de produção e professora do curso de Design da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Claudete Ruschival desenvolveram, em parceria com outros pesquisadores da universidade, um software, chamado “Lina Educa”, para ajudar crianças autistas com a organização e dar apoio ao processo de alfabetização.

“A proposta do software é organizar uma agenda das atividades diárias para as crianças autistas, como, por exemplo, escovar os dentes. Ela precisa ter essa referência. O software também vai ajudar na organização das atividades acadêmicas dessa criança”, explicou Claudete Ruschival.

As atividades acadêmicas oferecidas pelo software envolvem vários fatores relacionados às palavras e às imagens, ressalta Alice. “Porque a criança autista é muito atenta ao visual”, explicou. “São essas atividades que vão servir de apoio ao processo de alfabetização das crianças autistas. Por isso, ela precisa desse apoio”, completou Claudete.

O projeto se baseia numa pesquisa de análise de comportamento realizada pela Universidade de São Paulo (USP). O projeto também está recebendo apoio do Grupo de Intervenção Comportamental Gradual, de São Paulo, uma clínica de tratamento de crianças com déficit de aprendizado.

Pesquisa acadêmica

O software se originou a partir do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Alice na Ufam. Ao ser publicado como artigo num congresso de design no Rio de Janeiro, o software chamou a atenção de pais de autistas, profissionais de saúde que trabalham com a síndrome e até mesmo de cientistas. Foi a partir daí que Alice e a orientadora do trabalho, Claude Roschival, procuraram apoio para o funcionamento do Lina Educa.

O software foi desenvolvido para funcionar em plataformas móveis, como tablets, e também em computadores, e será disponibilizado gratuitamente para download quando for concluído. O projeto, de R$ 183 mil, foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Também acompanham o desenvolvimento do projeto.

Desenvolvimento

O software Lina Educa começou a ser desenvolvido em janeiro, porém, o projeto foi aprovado pela Fapeam no ano passado. A previsão é que até novembro ele seja concluído e passe para a fase de testes com crianças autistas de São Paulo e de Manaus, com o apoio do Instituto Autismo no Amazonas.


AUTISMO - Autistas no mercado de TI

Dinamarquês que alocar 1 milhão de autistas no mercado de TI

PATRÍCIA GOMES
DO PORVIR

Thorkill Sonne é um caçador de talentos. Sua missão é encontrar, treinar e apresentar ao mercado as melhores pessoas para preencher vagas que nem sempre encontram candidatos à altura. São especificamente funções na área de TI (tecnologia da informação), que demandam profissionais com um grande poder de concentração e muita atenção aos detalhes.
Na busca por esse perfil e mobilizado por um drama pessoal, Sonne se deu conta de que um grupo normalmente relegado às margens do mercado de trabalho -e, às vezes, até da sociedade- era capaz de desempenhar essas atividades melhor do que ninguém: as pessoas com autismo. Ali, no que a maioria das pessoas via desvantagem, ele percebeu uma oportunidade justa de crescimento e quer alocar 1 milhão de profissionais no mercado de trabalho.
"Se alguém tem algum tipo de desordem, como autismo, as pessoas simplesmente não esperam nada dela. Mas ela pode ser muito mais esperta do que se pensa. Nós ajudamos pessoas, empresas e governos a pensar a partir dessa perspectiva", diz Sonne, fundador da Specialisterne (especialista em dinamarquês), uma empresa da área de TI que avalia, capacita e forma consultores com autismo, oferecendo-lhes a oportunidades de ter uma vida produtiva.
Entre as atividades que os "especialistas" de Sonne são capacitados a fazer estão desde a manipulação de dados, passando por teste da funcionalidade de aplicativos até a programação e a construção de algoritmos.
Parte disso ocorre, segundo ele, porque muitos autistas têm capacidades profissionais únicas. "Muitas vezes, eles têm uma memória excelente, uma ótima habilidade de perceber padrões e uma incrível capacidade de encontrar alegria ao desempenhar funções que a maior parte das pessoas acharia chato".
A ideia de fundar a Specialisterne teve princípio em uma observação profissional. Sonne sempre se incomodou com a falta de mão de obra especializada que a empresa onde trabalhava -e viria a se tornar a sua primeira cliente- enfrentava rotineiramente.
Mas foi uma razão pessoal que fez Sonne perceber quem seriam as pessoas ideais para preencher essa lacuna. Aos dois anos de idade, seu filho, Lars, hoje adolescente, foi diagnosticado com autismo. Até então, Sonne e sua mulher nunca tinham tido contato com o assunto. "Primeiro, não sabíamos o que fazer. Depois, começamos a ler livros, conhecer pessoas", conta ele.
Com o tempo, foram percebendo que Lars tinha uma memória fora do comum e que, entre crianças e jovens autistas, muitos tinham capacidades que poderiam ser aproveitadas no mercado de trabalho, se bem trabalhadas. Estava aí a chave da mudança. Sonne pediu demissão, hipotecou a casa, elaborou uma metodologia de trabalho e fundou a Specialisterne.
"Nós não ensinamos a eles como 'se comportar bem'. Eles não precisam se adaptar às regras normais de um ambiente de trabalho", afirma . Seus "especialistas" não são obrigados a serem bons em atividades que vão contra a sua natureza, mas apenas desempenhar bem determinadas funções para as quais têm destreza, o que lhes garante sustentabilidade no emprego.
"Eles não precisam aprender a se adaptar às regras normais de ambientes de trabalho, como ser bom em trabalho de equipe, ser empático, lidar bem com o estresse ou ser flexível. Essas não são características normais em pessoas com o autismo", diz a empresa em seu site. Por isso parte do trabalho da Specialisterne é também preparar a empresa para receber seus especialistas em sua equipe.
Quase uma década depois do início de sua atuação, Sonne não tem mais apenas uma empresa na Dinamarca. Ele já atua em países como Noruega, Áustria e Estados Unidos. Mais recentemente, além do trabalho direto com as pessoas com autismo, ele lançou a Fundação Specialist People, cujo objetivo é falar para pessoas, organizações e governos sobre o assunto e para fazer seu modelo replicável pelo mundo. "Faz parte da nossa estratégia ter o nosso modelo copiado. A gente gosta quando isso acontece", diz ele.
Com toda essa rede de apoios, Sonne determinou uma meta ousada: colocar 1 milhão de pessoas com no mercado de trabalho. Para chegar a esse número, fez uma conta simples. Não há pesquisas inteiramente confiáveis, mas calcula-se que, no mundo, cerca de 68 milhões de pessoas tenham autismo e outras tantas tenham sido diagnosticadas com desordens similares. Todos eles são "especialistas" em potencial.
"Ao colocar essas pessoas no mercado de trabalho de maneira sustentável, criamos esperança para milhares de pessoas. Vemos famílias felizes, pessoas com autismo aparentemente tendo uma boa vida. É para isso que trabalhamos."