sexta-feira, 1 de abril de 2011

KARINA: Uma pessoa especial que passou pela minha vida profissional

NOTÍCIA FELIZ EM PRIMEIRÃO MÃO

Tive um imenso prazer em cruzar com a Karina ao longo da minha carreira. Tudo aconteceu por acaso e quando vi lá estava eu do lado dela fazendo o possível para que ela realizasse um sonho!
Dei aulas de computação para Karina no hospital HC e foi muito gratificante. Aprendi muita coisa com ela, e a principal foi a sua força de vontade!!!









Paciente recebe alta do HC após 13 anos de internação

Karina Chicória pode ir para casa depois que DRS doou um respirador portátil
Respirador fica acoplado sob cadeira de Karina Chicória

Depois de morar por 13 anos na Unidade de Emergência do HC (Hospital das Clínicas) de Ribeirão Preto, Karina Aparecida Chicória, de 27 anos, recebeu a doação de um respirador do DRS (Departamento Regional de Saúde) e terá alta nesta quarta-feira.

A ansiedade de deixar o hospital fez com que a paciente mal dormisse na noite desta terça-feira. "Em casa, terei mais liberdade para poder sair e receber amigos. Não quero a rotina do hospital. Quero acordar quando quiser, comer o que quiser sem ter de pedir", diz.

Karina conta que, aos 14 anos, foi atingida por uma facada no pescoço durante uma briga com uma colega que, assim como ela, traficava drogas. A faca atingiu a medula da adolescente, que passou 18 dias em coma e seis meses internada na terapia intensiva. Quando recobrou a consciência, estava tetraplégica e dependente da respiração artificial.

Karina passou a adolescência no hospital e, após a revolta inicial pela perda dos movimentos, aprendeu a ter médicos e enfermeiros como família.

"Ela é muito alegre. Havia dias em que eu falava que não estava legal e ela me ouvia e me confortava", afirma, emocionada, a professora Janaína Malta, que ajudou em 2009 a paciente a concluir o ensino fundamental pelo Exame Nacional para Certificado de Complemento de Jovens e Adultos.

Para que Karina pudesse voltar para casa, foram mobilizados o Ministério Público, a Prefeitura de Ribeirão e o DRS. Há cerca de um ano ela esperava o aparelho importado, que custa cerca de R$ 30 mil.

SUA HISTÓRIA

Karina Aparecida Chicória, 27, ficou tetraplégica aos 14 anos, após levar uma facada na nuca que atingiu a coluna cervical.
Ela chegou a tentar o suicídio, ao mover o pescoço para tirar o respirador. Aprendeu a usar a boca para pintar e para navegar na internet.
Ela viveu por 13 anos no HC (Hospital das Clínicas) de Ribeirão Preto (313 km de São Paulo) e era considerada a mais antiga moradora da instituição. Ela volta hoje para casa. Veja seu relato:
Faltava quatro meses para meu aniversário de 15 anos. Me lembro bem da data de quando tudo aconteceu, 13 anos atrás. Estava na casa de uma amiga, que cuidava de uma bocada de drogas.
Outra colega, a Cirley, que queria visitar o namorado na cadeia, me pediu para ficar no lugar dela. Em troca, me daria R$ 80.
Eu aceitei. Eu tinha 14 anos, era uma época que eu estava meio revoltada, com más companhias. Nunca havia experimentado droga, só maconha, nem vendido.
Ela me deu 28 papelotes de cocaína. Vendi um deles, mas depois percebi que havia perdido um.
Tive então uma ideia. Sabia que as meninas abriam os papelotes, pegavam um pouco de cada e refaziam um outro para vender e ganhar dinheiro. Pensei em fazer isso para repor a perda.
Estava terminando [o serviço] quando chegou o dono da droga. Ele ficou furioso com a Cirley e ela, brava comigo porque perdeu o emprego. Eu estava encostada no portão quando senti um negócio passar no meu pescoço. Era ela [a Cirley], que veio por trás e me deu uma facada na nuca. Antes de cair, eu a vi com a faca.



A NOTÍCIA

Minha cirurgia durou oito horas. Depois, foram 18 dias em coma e seis meses no CTI. No dia seguinte [à cirurgia], acordei com minha mãe me chamando. Eu me lembrava de tudo. Só xingava e queria me vingar da menina.
Três meses depois veio a notícia. A médica veio e disse que eu ia ficar tetraplégica. Perguntei: "o que é isso?"
Ela disse que eu perdi os movimentos do pescoço para baixo e que ficaria dependente de um respirador. Eu perguntei até quando. Ela respondeu: "Até quando Deus quiser".
Só chorava. Era conversar comigo que eu chorava. Foi assim uns quatro meses.
Até que o médico me deu uma bronca. "Já te expliquei várias vezes o que você tem e não é para você ficar chorando. Essa é a última vez que você vai chorar." E não chorei mais, só quando ficava muito triste.

VIDA NO HOSPITAL

Fiz muitos amigos aqui. É uma segunda família. E muita gente já aposentou.
Voltei a estudar --parei na 3ª série. Agora, já conclui o ensino fundamental. Também aprendi a pintar com a boca. Fiz oito quadros.
A internet me ajuda também. Tenho Orkut, MSN. * OBS: Eu que ensinei ela a no computador
Converso com os pacientes novos, com os acompanhantes. Até o cantor Belo, meu ídolo, já veio me visitar.

SUICÍDIO

Há dois anos, entrei numa depressão feia, até tentei me matar. Tentei tirar o respirador à noite, mexendo o pescoço. Só que não consegui.
Acho que Deus falou: "Vou dar um susto nela, para ela acordar pra vida." Porque no outro dia, estava dormindo e o respirador saiu sozinho, sem eu querer.
Quando as enfermeiras chegaram, estava perdendo a consciência. Pedi perdão a Deus, vi que não queria morrer, eu queria viver.

CASA

Hoje [ontem] me despedi dos meus amigos do hospital [Ela volta hoje para casa].
Planejei como seria a festa de despedida: as fotos projetadas em um telão, a música de fundo. Teve até convite.
Eu não via a hora de ir para casa. Tudo graças ao respirador que o Estado enviou, à ajuda do pessoal do HC e também porque minha mãe poderá ficar comigo.

SONHO

Quero continuar estudando, terminar o ensino médio. No começo, queria fazer enfermagem. Agora estou pensando em jornalismo, porque no hospital criei um jornal mural. Meu desejo era ir para casa. E esse é o primeiro sonho que estou realizando.

ADAPTAÇÃOES

Nesse período, a mãe de Karina, a doméstica Maria Aparecida Chicória, 43, foi treinada para cuidar do aparelho de respiração artificial e a casa onde as duas vão morar, no Jardim Paiva, precisou ser adaptada.
"Minha próxima meta é terminar o ensino médio e fazer uma faculdade. Queria ser enfermeira, mas, como minha condição não permite, penso em ser repórter", afirma.






NOTÍCIA TRISTE

Jovem que passou 13 anos no HC morre após dois meses em casa

Karina Chicória levou uma facada nas costas aos 14 anos e precisava de cuidados especiais; ela teve infecção generalizada



A jovem Karina Chicória, de 27 anos, morreu dois meses depois de ter alta do Hospilta das Clínicas, em Ribeirão Preto, onde passou 13 anos internada. Ela voltou ao hospital na tarde de quinta-feira (2), com um quadro de infecção generalizada, e faleceu na manhã desta sexta (3).
De acordo com o HC, Karina chegou consciente e conversando, mas a infecção evoluiu rapidamente e ela não resistiu.
Karina foi internada em 1998, aos 14 anos, após levar uma facada nas costas, em uma briga por causa de drogas. Ela ficou tetraplégica e precisava de cuidados especiais, entre eles da ajuda de um aparelho para respirar. Em 30 de março, ela voltou para casa, sob os cuidados de sua mãe, após ganhar o aparelho respirador, que custava R$ 30 mil.



Nenhum comentário:

Postar um comentário