Uma concepção teórica constitui-se em um conjunto de referências pedagógicas que visam contribuir para o aperfeiçoamento de práticas educativas de qualidade que possam promover e ampliar as condições necessárias para o desenvolvimento integral do sujeito.
Nossa concepção teórica baseia-se no principio de que todo sujeito considerado de risco, com distúrbio no desenvolvimento ou portador de deficiência, possui os mesmos direitos fundamentais de qualquer outro, especialmente no que se refere à educação, assistência e a interação social.
Baseado numa concepção teórica sócio-construtivista, acreditamos que a aprendizagem é um processo ativo – o sujeito constrói esta aprendizagem através de situações de interação com o outro e com o meio; experimentando, manipulando, vivenciando, refletindo e relacionando suas descobertas.
Atualmente temos como referencial a pedagogia de projetos, pois acreditamos ser uma proposta de intervenção pedagógica que propicia a aprendizagem um novo sentido, onde a experiência vivida e a produção cultural sistematizada se entrelaçam dando significado as experiências construídas.
A Pedagogia de Projetos é uma das mais avançadas propostas educacionais nos dias de hoje.
Implica em uma articulação dos conhecimentos escolares, de forma a estruturar o ensino-aprendizagem, sem perder de vista a individualidade dos alunos e a interdisciplinaridade dos saberes na construção do conhecimento.
O trabalho em Projetos tem o objetivo de permitir a organização dos conhecimentos escolares em relação ao tratamento da informação, na medida em que favorece a transformação da informação oferecida pelas diversas disciplinas em conhecimento.
Desta forma, é possível relacionar diferentes conteúdos em torno de problemas, ou ainda apresentar hipóteses que favoreçam aos alunos a construção de seus conhecimentos, tornando o modelo de aprendizagem significativa.
Com suas devidas proporções, os Projetos são desenvolvidos nos respectivos graus, respeitando a faixa etária de cada série, pré-requisitos, habilidades e competências.
PROJETOS DE APRENDIZAGEM
Os projetos de trabalho constituem um planejamento de ensino e aprendizagem vinculado a uma concepção da escolaridade em que se dá importância não só a aquisição de estratégias cognitivas de ordem superior, mas também ao papel do estudante como responsável por sua própria aprendizagem.
Costuma ser um planejamento motivador para o aluno, pois este se sente envolvido no processo de aprendizagem. Geralmente, permite ao estudante escolher o tema ou envolver-se em sua escolha. Isto faz com que ele leve adiante a busca, na qual há de recolher, selecionar, ordenar, analisar e interpretar a informação. Essa tarefa pode ser realizada de maneira individual ou grupal, e seus resultados deverão ser públicos, para favorecer um conhecimento partilhado.
Na cultura contemporânea, uma questão, fundamental para que um indivíduo possa “compreender” o mundo em que vive, é que saiba como ter acesso, analisar e interpretar a informação. Na educação escolar, supõe-se que se deva facilitar esse aproveitamento, num processo que começamos que nunca termina, pois sempre podemos ter acesso a formas mais complexas de dar significado à informação.
(Hernández – Transgressão e Mudança, páginas 88/89)
Quando falamos em “aprendizagem por projetos” estamos necessariamente nos referindo à formulação de questões pelo autor do projeto, pelo sujeito que vai construir o conhecimento.
Na organização dos conhecimentos escolares através de Centros de Interesses, costuma ser o docente quem se responsabiliza e decide a informação que os alunos irão trabalhar em aula. Nos projetos, essa função não se exclui, mas se complementa com as iniciativas e colaborações dos alunos. Esse envolvimento dos estudantes na busca da informação tem uma série de efeitos que se relacionam com a intenção educativa dos Projetos. Em primeiro lugar, faz com que assumam como próprio o tema, e que aprendam a situar-se diante da informação a partir suas próprias possibilidades e recursos Mas também, lhe leva a envolver outras pessoas na busca de informação, o que significa considerar que não se aprende só na escola, e que aprender é um ato comunicativo, já que necessitam da informação que os outros trazem. Mas, sobretudo, descobrem que eles também têm uma responsabilidade na sua própria aprendizagem, que não podem esperar passivamente que o professor tenha todas as respostas e lhes ofereça todas as soluções, especialmente porque, o educador é um facilitador, com freqüência, um estudante a mais.
COMO SE ORGANIZA UM PROJETO
É fundamental que a questão a ser pesquisada parta da curiosidade, das dúvidas, das indagações dos alunos e não impostas pelo professor.
O tema pode pertencer ao currículo oficial, proceder de uma experiência comum, originar-se de um fato da atualidade, surgir como um problema proposto com a professora, ou emergir de uma questão que ficou pendente em outro projeto.
A ORGANIZAÇÃO
Não há uma seqüência única e geral para todos os projetos. Inclusive quando duas professoras compartilham de uma mesma pesquisa o percurso pode ser diferente.
ü O desenvolvimento de um projeto não é linear, nem previsível;
ü O professor também pesquisa e aprende;
ü Não pode ser repetido;
ü Choca-se com a idéia de que se deve ensinar do mais fácil ao mais difícil;
ü Questiona a idéia de que se deve começar pelo mais próximo (moradia, bairro, vogais...).
O grupo como um todo (crianças e adultos) busca informações externas em diferentes tipos de fontes: conversas ou entrevistas com informantes diversos, passeios, visitas, observações, explorações de materiais, experiências concretas, pesquisas bibliográficas, Internet. Alguns pontos são relevantes na busca de subsídios que alimentem o fio condutor dos projetos. Entre eles: biblioteca da escola, parceria com as famílias e a comunidade, organização do prédio e da sala de aula, registro.
A AVALIAÇÃO
Depois do material estar organizado, as crianças podem expô-lo, recontando-o e narrando-o através de diferentes linguagens. A avaliação do trabalho desenvolvido é feita a partir do reencontro com a situação-problema levantada inicialmente, como os comentários feitos sobre o propósito e o realizado. É importante que o grupo possa divulgar o que está fazendo e tenha a oportunidade de comunicá-lo. Os dossiês são uma estratégia importante para a organização final do projeto. É importante lembrar que cada finalização de projeto propõe novas perguntas e elas podem ser utilizadas para encaminhar novos projetos.
TURMAS DIFERENTES PODEM TRABALHAR O MESMO PROJETO
Duas professoras podem compartilhar uma mesma pesquisa, porém com percursos diferentes.
COMO FICAM AS ÁREAS DE CONHECIMENTO E OS CONTEÚDOS DENTRO DOS PROJETOS DE TRABALHO
Um projeto de trabalho prevê diversas “portas de entrada”, as quais possibilitam “navegar” em diferentes áreas do conhecimento. Não sabemos de antemão quais portas se abrirão. Isso acontecerá a partir dos encaminhamentos feitos pela professora, por sua sensibilidade ao encaminhar problemas e hipóteses levantadas, por sua capacidade de fornecer informações.
É importante mencionar aqui a idéia de que “ninguém cria do nada”... Se não subsidiarmos a construção do conhecimento pelas crianças, se não planejarmos estratégias desafiadoras, poucas e pequenas portas se abrirão e, conseqüentemente, o trabalho será muito empobrecido. Colocar as crianças em contato com diferentes objetos de cultura e o fato de escolhermos uma temática ou outra, não significa ser melhor ou pior para relacionarmos conhecimentos, uma vez que o conhecimento não é algo fragmentado.
No desenvolvimento de um projeto, a execução das tarefas e a busca de solução para as situações-problema vão mostrando ao professor aquilo que os alunos sabem e o que eles precisam saber para realizarem com competência o trabalho determinado. A falta de conhecimento de conteúdos ou de procedimentos ágeis para a realização dos trabalhos, que fica explicitada no início, é o que deve nortear a escolha do professor e do que ele deve ensinar.
QUAL A DURAÇÃO DE UM PROJETO
A aprendizagem e o ensino se realizam mediante percurso que nunca é fixo, mas serve de fio condutor para a atuação do docente em relação aos alunos.
Um projeto não começa necessariamente num dia determinado, mas sim se desencadeia e se desenvolve como parte de um processo que é contínuo e não tem regras quanto a passos pré-determinados, nem tampouco obedece uma seqüência rígida.
O PAPEL DO EDUCADOR NO TRABALHO COM PROJETOS
· Escutar o que os alunos sabem e necessitam expressar;
· Não se colocar como o único e principal informante;
· Conectar os temas propostos a outros conteúdos e à realidade;
· Organizar os espaços e tempos de acordo com as exigências do trabalho a ser executado.
Após a escolha do tema, o professor dará continuidade ao trabalho com as crianças, criando situações em que as mesmas levantem propostas de execução do estudo ou da resolução de um problema: organizando listas sobre o que sabem do tema, o que querem saber, o que querem aprender e como se pode chegar a tais aprendizagens. Um bom modo de fazer esse levantamento á através da escrita no quadro de giz ou em folhas de papel pardo dos itens levantados pelas crianças, para ordenar a abordagem do tema. O confronto de idéias aparece neste momento, tanto no que diz respeito às concepções como aos modos de encaminhamento.
Esse esquema, produzido coletivamente, é a base do planejamento das tarefas – individuais, de pequeno e grande grupo – e da distribuição do tempo.
Dois importantes aportes no trabalho com projetos: a necessidade do professor estudar e se aprofundar na temática a ser enfocada e a exploração dos conhecimentos que as crianças possuem sobre o tema a ser trabalhado. Desta forma cabe ao professor estudar atentamente sobre o tema do projeto, o que lhe permitirá adequar estratégias interessantes e desafiadoras para as crianças, selecionar e buscar informações necessárias ao andamento do projeto, bem como as alternativas possíveis de materiais e recursos mais adequados.
PROJETOS PEDAGÓGICOS
O QUE CONSTRUIR?
PLANEJAMENTO (Elementos Básicos)
Conhecimento da Realidade/ Diagnostico População alvo: aluno/classe meio: escolar/comunidade
PARA QUEM?
PARA QUE?
Determinação dos Objetivos Gerais e Específicos
OBJETIVOS
"desdobram e especificam em formas de condutas concretas, em modos pragmáticos de atuar, sendo exteriormente perceptíveis (...) indicam marcos precisos onde se pretende chegar e as potencialidades a serem desenvolvidas (físicas, cognitivas, afetivas, estéticas, éticas, de relação interpessoal e de inserção social) (Daibem, s/d).
Como elaborar objetivos:
Considerar:
• " O que vai fazer?" é a indicação da ação (limitada, precisamente expressa e perfeitamente exeqüível para o tempo previsto) que será realizada. (...) deve ser proposta no infinitivo (Gandin, 1996 ). Obs.: em anexo lista de verbos
• "Para que fazê-lo " - é a indicação do resultado que se pretende alcançar, (é) sempre uma finalidade (Gandin, 1996.)
Seleção e organização dos Conteúdos
QUE CONTEÚDOS?
Tema (temática, assunto) que será trabalhado enquanto meio para o desenvolvimento das potencialidades de forma que os indivíduos "exercitem sua maneira própria de pensar, sentir c ser, ampliando suas hipóteses acerca do mundo ao qual pertencem c constituindo-se em um instrumento para a compreensão da realidade (MEC, 1998).
Conteúdos Conceituais (conceitos, fatos e princípios)
Conteúdos Proccdimentais (refere-se ao "saber fazer")
Conteúdos Atitudinais (associados a valores, atitudes e normas) (MEC, 1998)
Obs: só tem sentido apropriar-se dos conteúdos quando estes geram uma ação com vistas a uma finalidade pré-determinada (relação Objetivo-Conteúdo)
Procedimentos de Ensino
• SITUAÇÃO SIMULADA: dramatização, estudo de caso.
• CONFRONTO COM SITUAÇÕES REAIS: estágios, excursões, condução de pesquisa. PEQUENOS GRUPOS:, painel integrado, júri, aulinha.
• ESPECIALISTAS/ PREPARAÇÃO PRÉVIA:seminário, simpósio.
• AÇÃO CENTRALIZADA NO PROFESSOR: aula expositiva dialogada.
• PESQUISAS E PROJETOS
• OUTROS: leituras (resenhas), trabalhos escritos, apresentados, exercícios, questionários, confecção de manual, palestras, instrução programada, aula prática.
Seleção de Recursos de Ensino
• HUMANOS: professor, aluno, equipe escolar, comunidade.
• MATERIAIS: do ambiente escolar , áudio - visuais (quadro verde, flanelógrafo, vídeo, retroprojetor, etc).
da comunidade - museus, fábricas, laboratórios, etc.
do ambiente natural - água, folha, pedra, animais.
VERBOS PARA FORMULAÇÃO DE OBJETIVOS OPERACIONAIS OU RESULTADOS DE APRENDIZAGEM
1. Comportamentos Criativos
alterar recombinar
perguntar reconstruir
mudar reagrupar
reorganizar renomear
reelaborar variar reescrever sintetizar
2. Comportamentos complógicos de julgamento
combinar avaliar explicar concluir
COMO ? COM O QUE ?
comparar planejar formular
3. Comportamento discriminativos gerais
escolher diferenciar indicar
coletar discriminar isolar
definir identificar listar
descrever distinguir combinar
escolher colocar apontar selecionar
separar
4. Comportamentos sociais
ajudar , comunicar reagir cumprimentar
conversar contribuir
agradecer discordar
5. Comportamentos matemáticos
adicionar contar
dividir medir
calcular multiplicar
comparar numerar
6. Comportamentos científicos
aplicar criar
diminuir manipular
demonstrar operar cultivar plantar
desculpar-se saudar discutir convidar
provar solucionar subtrair verificar
preparar remover
controlar o tempo pesar
participar permitir
resolver demonstrar
7. Comportamentos de: aparência geral, higiene e segurança
abotoar cobrir esvaziar provar desatar
limpar vestir encher amarrar esperar
fechar beber atar desabo toar lavar
pentear comer parar descobrir arrumar
8. Comportamentos de linguagem
abreviar colocar hifens dizer separar em assinalar
acentuar sublinhar pronunciar sílabas traduzir
articular pontuar soletrar narrar falar
escrever em ler estabelecer verbalizar relatar
9. Comportamentos artísticos
compor pontilhar misturar combinar
harmonizar desenhar modelar traçar
pintar perfurar pregar decorar
edificar armar colorir ornamentar
esculpir guiar colocar
construir ilustrar enrolar
cortar fundir serrar
compor fazer mímica
dedilhar bater um ritmo
expressar fazer pantominas
10. Variedades
apontar relatar adquirir abrir
tentar montar dar pagar
atender descobrir moer colocar
começar mostrar guiar descansar
trazer repartir entregar pregar
comparar aterrar derrubar bater
aproximar trabalhar retirar sugerir
completar acabar manifestar sustentar
considerar raspar dormir levar
corrigir estender começar tocar
determinar repartir votar tentar
apresentar usar conduzir torcer
produzir tecer emprestar vigiar
colocar analisar deixar determinar
levantar explicar
ESTRUTURA DE UM PROJETO
(segundo as normas do MEC, e conteúdos do Referencial Curricular para a educação infantil)
1. Apresentação:
Escola – nome da escola.
Turma – série a ser trabalhada.
Período
Ano
Duração – tempo
2. Justificativa : O porque da necessidade de se criar o projeto em questão, como surgiu a idéia, etc.
3. Objetivos: Uma idéia geral, específica, não se esquecendo de usar os verbos no fim do tutorial.
4. Conteúdos:
Conteúdos conceituais:
Os conteúdos conceituais referem-se à construção ativa das capacidades para operar com símbolos, idéias, imagens e representações que permitem atribuir sentido à realidade.
Desde os conceitos mais simples até os mais complexos, a aprendizagem se dá por meio de um processo de constantes idas e vindas, avanços e recuos nos quais as crianças constroem idéias provisórias, ampliam-nas e modificam-nas, aproximando-se gradualmente de conceitualizações cada vez mais precisas.
O conceito que uma criança faz do que seja um cachorro, por exemplo, depende das experiências que ela tem que envolvam seu contato com cachorros. Se num primeiro momento, ela pode, por exemplo, designar como “Au-Au” todo animal, fazendo uma generalização provisória, o acesso a uma nova informação, por exemplo, o fato de que gatos diferem de cachorros, permite-lhe reorganizar o conhecimento que possui e modificar a idéia que tem sobre o que é um cachorro. Esta conceitualização, ainda provisória, será suficiente por algum tempo — até o momento em que ela entrar em contato com um novo conhecimento.
Assim, deve-se ter claro que alguns conteúdos conceituais são possíveis de serem apropriados pelas crianças durante o período da educação infantil. Outros não, e estes necessitarão de mais tempo para que possam ser construídos. Isso significa dizer que muitos conteúdos serão trabalhados com o objetivo apenas de promover aproximações a um determinado conhecimento, de colaborar para elaboração de hipóteses e para a manifestação de formas originais de expressão.
Conteúdos procedimentais:
Os conteúdos procedimentais referem-se ao saber fazer. A aprendizagem de procedimentos está diretamente relacionada à possibilidade de a criança construir instrumentos e estabelecer caminhos que lhes possibilitem a realização de suas ações. Longe de ser mecânica e destituída de sentido, a aprendizagem de procedimentos constitui-se em um importante componente para o desenvolvimento das crianças, pois relaciona-se a um percurso de tomada de decisões. Desenvolver procedimentos significa apropriar-se de “ferramentas” da cultura humana necessárias para viver. No que se refere à educação infantil, saber manipular corretamente os objetos de uso cotidiano que existem à sua volta, por exemplo, é um procedimento fundamental, que responde às necessidades imediatas para inserção no universo mais próximo. É o caso de vestir-se ou amarrar os sapatos, que constituem-se em ações procedimentais importantes no processo de conquista da independência. Dispor-se a perguntar é uma atitude fundamental para o processo de aprendizagem. Da mesma forma, para que as crianças possam exercer a cooperação, a solidariedade e o respeito, por exemplo, é necessário que aprendam alguns procedimentos importantes relacionados às formas de colaborar com o grupo, de ajudar e pedir ajuda etc.
Deve-se ter em conta que a aprendizagem de procedimentos será, muitas vezes, trabalhada de forma articulada com conteúdos conceituais e atitudinais.
Conteúdos Atitudinais:
Os conteúdos atitudinais tratam dos valores, das normas e das atitudes. Conceber valores, normas e atitudes como conteúdos implica torná-los explícitos e compreendê-los como passíveis de serem aprendidos e planejados.
As instituições educativas têm uma função básica de socialização e, por esse motivo, têm sido sempre um contexto gerador de atitudes. Isso significa dizer que os valores impregnam toda a prática educativa e são aprendidos pelas crianças, ainda que não sejam considerados como conteúdos a serem trabalhados explicitamente, isto é, ainda que não sejam trabalhados de forma consciente e intencional.
A aprendizagem de conteúdos deste tipo implica uma prática coerente, onde os valores, as atitudes e as normas que se pretende trabalhar estejam presentes desde as relações entre as pessoas até a seleção dos conteúdos, passando pela própria forma de organização da instituição. A falta de coerência entre o
discurso e a prática é um dos fatores que promove o fracasso do trabalho com os valores.
Nesse sentido, dar o exemplo evidencia que é possível agir de acordo com valore determinados. Do contrário, os valores tornam-se vazios de sentido e aproximam-se mais de uma utopia não realizável do que de uma realidade possível.
Para que as crianças possam aprender conteúdos atitudinais, é necessário que o professor e todos os profissionais que integram a instituição possam refletir sobre os valores que são transmitidos cotidianamente e sobre os valores que se quer desenvolver. Isso significa um posicionamento claro sobre o quê e o como se aprende nas instituições de educação infantil.
Deve-se ter em conta que, por mais que se tenha a intenção de trabalhar com atitudes e valores, nunca a instituição dará conta da totalidade do que há para ensinar. Isso significa dizer que parte do que as crianças aprendem não é ensinado de forma sistemática e consciente e será aprendida de forma incidental. Isso amplia a responsabilidade de cada um e de todos com os valores e as atitudes que cultivam.
5. ÁREAS DO CONHECIMENTO
• LINGUAGEM ESCRITA E LINGUAGEM ORAL
A aprendizagem da linguagem oral e escrita é um dos elementos importantes para as crianças ampliarem suas possibilidades de inserção e de participação nas diversas práticas sociais.
O trabalho com a linguagem se constitui um dos eixos básicos na educação infantil, dada sua importância para a formação do sujeito, para a interação com as outras pessoas, na orientação das ações das crianças, na construção de muitos conhecimentos e no desenvolvimento do pensamento.
Aprender uma língua não é somente aprender as palavras, mas também os seus significados culturais, e, com eles, os modos pelos quais as pessoas do seu meio sociocultural entendem, interpretam e representam a realidade.
A educação infantil, ao promover experiências significativas de aprendizagem da língua, por meio de um trabalho com a linguagem oral e escrita, se constitui em um dos espaços de ampliação das capacidades de comunicação e expressão e de acesso ao mundo letrado pelas crianças. Essa ampliação está relacionada ao desenvolvimento gradativo das capacidades associadas às quatro competências lingüísticas básicas: falar, escutar, ler e escrever.
• MATEMÁTICA
As crianças, desde o nascimento, estão imersas em um universo do qual os conhecimentos matemáticos são parte integrante. As crianças participam de uma série de situações envolvendo números, relações entre quantidades, noções sobre espaço. Utilizando recursos próprios e pouco convencionais, elas recorrem a contagem e operações para resolver problemas cotidianos, como conferir figurinhas, marcar e controlar os pontos de um jogo, repartir as balas entre os amigos, mostrar com os dedos a idade, manipular o dinheiro e operar com ele etc. Também observam e atuam no espaço ao seu redor e, aos poucos, vão organizando seus deslocamentos, descobrindo caminhos, estabelecendo sistemas de referência, identificando posições e comparando distâncias. Essa vivência inicial favorece a elaboração de conhecimentos matemáticos. Fazer matemática é expor idéias próprias, escutar as dos outros, formular e comunicar procedimentos de resolução de problemas, confrontar, argumentar e procurar validar seu ponto de vista, antecipar resultados de experiências não realizadas, aceitar erros, buscar dados que faltam para resolver problemas, entre outras coisas. Dessa forma as crianças poderão tomar decisões, agindo como produtoras de conhecimento e não apenas executoras de instruções. Portanto, o trabalho com a Matemática pode contribuir para a formação de cidadãos autônomos, capazes de pensar por conta própria, sabendo resolver problemas.
Nessa perspectiva, a instituição de educação infantil pode ajudar as crianças a organizarem melhor as suas informações e estratégias, bem como proporcionar condições para a aquisição de novos conhecimentos matemáticos. O trabalho com noções matemáticas na educação infantil atende, por um lado, às necessidades das próprias crianças de construírem conhecimentos que incidam nos mais variados domínios do pensamento; por outro, corresponde a uma necessidade social de instrumentalizá-las melhor para viver, participar e compreender um mundo que exige diferentes conhecimentos e habilidades.
• MOVIMENTO
As maneiras de andar, correr, arremessar, saltar resultam das interações sociais e da relação dos homens com o meio; são movimentos cujos significados têm sido construídos em função das diferentes necessidades, interesses e possibilidades corporais humanas presentes nas diferentes culturas em diversas épocas da história. Esses movimentos incorporam-se aos comportamentos dos homens, constituindo-se assim numa cultura corporal1. Dessa forma, diferentes manifestações dessa linguagem foram surgindo, como a dança, o jogo, as brincadeiras, as práticas esportivas etc., nas quais se faz uso de diferentes gestos, posturas e expressões corporais com intencionalidade.
Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianças também se apropriam do repertório da cultura corporal na qual estão inseridas.
• ARTES VISUAIS
As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem sentido a sensações, sentimentos, pensamentos e realidade por meio da organização de linhas, formas, pontos, tanto bidimensional como tridimensional, além de volume, espaço, cor e luz na pintura, no desenho, na escultura, na gravura, na arquitetura, nos brinquedos, bordados, entalhes etc.
O movimento, o equilíbrio, o ritmo, a harmonia, o contraste, a continuidade, a proximidade e a semelhança são atributos da criação artística. A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, intuitivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo às Artes Visuais.
• NATUREZA E SOCIEDADE
O mundo onde as crianças vivem se constitui em um conjunto de fenômenos naturais e sociais indissociáveis diante do qual elas se mostram curiosas e investigativas. Desde muito pequenas, pela interação com o meio natural e social no qual vivem, as crianças aprendem sobre o mundo, fazendo perguntas e procurando respostas às suas indagações e questões. Como integrantes de grupos socioculturais singulares, vivenciam experiências e interagem num contexto de conceitos, valores, idéias, objetos e representações sobre os mais diversos temas a que têm acesso na vida cotidiana, construindo um conjunto de conhecimentos sobre o mundo que as cerca.
Muitos são os temas pelos quais as crianças se interessam: pequenos animais, bichos de jardim, dinossauros, tempestades, tubarões, castelos, heróis, festas da cidade, programas de TV, notícias da atualidade, histórias de outros tempos etc. As vivências sociais, as histórias, os modos de vida, os lugares e o mundo natural são para as crianças parte de um todo integrado.
O eixo de trabalho denominado Natureza e Sociedade reúne temas pertinentes ao mundo social e natural. A intenção é que o trabalho ocorra de forma integrada, ao mesmo tempo em que são respeitadas as especificidades das fontes, abordagens e enfoques advindos dos diferentes campos das Ciências Humanas e Naturais.
• IDENTIDADE E AUTONOMIA
A importância das relações que a criança estabelece consigo mesma, com as outras crianças e consigo mesma. A criança entendida como um ser social, situado histórica e culturalmente deve ser considerada na sua totalidade e nas relações que estabelece consigo mesma e com os outros.
A família é o primeiro grupo social que a criança conhece e do qual recebe influência. Atualmente, muito cedo, é inserida num segundo grupo, formado por outras crianças e adultos: os Centros de Educação Infantil e Pré-Escolas. Na interação com estas crianças e adultos, o processo de socialização tende a se acelerar e faz com que a criança se defronte com questões de ordem emocional, afetiva e intelectual com maior freqüência, o que a leva a construir sua identidade e traçar os rumos para a conquista da autonomia. Através da relação com os outros, a criança organiza suas emoções e sentimentos. Por isso, há a necessidade de um relacionamento autêntico entre adultos e crianças, que tenha como base o afeto e a confiança, para que desta forma, possa promover sua auto-estima e independência. Deve-se propiciar o desenvolvimento de uma auto-imagem positiva da criança para que ela possa perceber-se na sua identidade própria e sendo valorizada nas suas ações e crescimento. A ação pedagógica deverá favorecer os trabalhos de grupo, pois ao interagir com seus pares a criança tem o seu ponto de vista confrontado, sendo que em situações discordantes se sentirá motivada a rever sua idéia, argumentar ou retificar. É nas situações de conflito que se dá oportunidade para que as crianças reflitam e cheguem a uma conclusão, exercendo desta forma sua autonomia. "A essência da autonomia é que as crianças tornem-se aptas a tomar decisões por si mesmas". As relações sociais que as crianças estabelecem entre elas influenciam, com bastante importância, o desenvolvimento da sua inteligência. Através do trabalho em grupos e de ações de trocas de informações ou de ajuda mútua o potencial de desenvolvimento da criança poderá se tornar o seu nível de desenvolvimento real. O mesmo ocorre através da ação intencional e mediada do adulto nas situações de aprendizagem.
• MÚSICA
A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio. A música está presente em todas as culturas, nas mais diversas situações: festas e comemorações, rituais religiosos, manifestações cívicas, políticas etc. Faz parte da educação desde há muito tempo, sendo que, já na Grécia antiga, era considerada como fundamental para a formação dos futuros cidadãos, ao lado da matemática e da filosofia.
6. Recursos - Livros, revistas, bibliografias, enfim, materiais que contribuirão para o projeto.
7. Avaliação - A observação das formas de expressão das crianças, de suas capacidades d concentração e envolvimento nas atividades, de satisfação com sua própria produção e com suas pequenas conquistas é um instrumento de acompanhamento do trabalho que poderá ajudar na avaliação e no replanejamento da ação educativa.
No que se refere à avaliação formativa, deve-se ter em conta que não se trata de avaliar a criança, mas sim as situações de aprendizagem que foram oferecidas. Isso significa dizer que a expectativa em relação à aprendizagem da criança deve estar sempre vinculada às oportunidades e experiências que foram oferecidas a ela. Assim, pode-se esperar, por exemplo, que a criança identifique seus colegas pelo nome apenas se foi dado a ela oportunidade para que pudesse conhecer o nome de todos e pudesse perceber que isso, além de ser algo importante e valorizado, tem uma função real.
No que se refere à formação da identidade e ao desenvolvimento progressivo da independência e autonomia, são apontadas aqui aprendizagens prioritárias para crianças até os três anos de idade: reconhecer o próprio nome, o nome de algumas crianças de seu grupo e dos adultos responsáveis por ele e valorizar algumas de suas conquistas pessoais.
“ NÃO HÁ EDUCAÇÃO SEM AMOR”-PAULO FREIRE